Alérdido, o homem cauteloso
Cozinhado domingo, março 26, 2006 por o rapaz que tinha um BLOGue | E-mail this post
Era uma vez um modesto homem chamado... bem, não sei mas isso também não interessa, posso perfeitamente contar a história duma pessoa sem saber o seu nome. Continuando... este senhor... erm... afinal acho que é melhor dar-lhe um nome... que passará de agora em diante a ser ficticiamente chamado de Alérdido Marocha (até pode ser que tenha acertado), não possuia nenhum tipo de veiculo, pelo que todos os meses comprava o passe "linha do 20", especialmente concebido para si; sendo então este o seu único meio de transporte. Mas para Alérdido isto não constituia um problema, antes pelo contrário. Alérdido era um homem culto, vivido e viajado, e sabia os benefícios dos autobus. Ele escolhera a "linha do 20" e não fora por acaso. Para além de possuir a noção que os transportes colectivos já de si são menos poluentes, pois comparando com um número de automóveis capazes de transportar um número equivalente de pessoas, os autobus produzem menos poluição; sendo a "linha do 20" a menos poluidora delas todas, pois possuia H2O bus que apenas libertam para a atmosfera moléculas de água. Nenhum facto escapava a Marocha pois ele sempre foi, desde criança, um homem cauteloso. Sim, Marocha não teve infância nem sequer cresceu, pois ele já era homem quando nasceu. Mas não vou entrar em detalhes pois tenho-lhe respeito. Terei primeiro de confirmar pessoalmente com ele a permissão para aqui discutir a sua vida privada.
Como homem viajado que era, Alérdido Marocha conhecia a "linha do 20" como nenhum outro homem alguma vez conhecera. Alérdido conhecia os passageiros habituais da linha, os mostoristas, os horários dos motoristas, os carteiristas, os artistas, os pianistas, os massagistas, os alfarrabistas, os contabilistas, os médicos legistas, os otorrinolaringologistas... enfim, uma panóplia de criaturas cujo término da nomenclatura referente à sua profisão seja "istas". De facto, Alérdido não tinha outra vida senão passear-se pela "linha do 20", socializar... mas sempre com muita cautela. Aliás, com tanta cautela que é esse o motvo que me leva a escrever este post. A cautela de Alérdido era tão exagerada que se tornava engraçada. Ele já era conhecido pela comunidade "linha 20" por carregar no stop na paragem que antecedia a sua. Tudo isto para evitar que, por algum motivo imprevisível, o autobus não parasse na sua paragem. De certo algo que acordou e irritou muitos motoristas e passageiros, que chegaram mesmo a tentar agredir Alérdido em sucessivas tentativas falhadas pois comoviam-se com a sua história de infância, que não hesitava contar quando se sentia ameaçado (inteligente, Alérdido). Claro que no início causava bastante alarido: "o homem tá parvo!", "não, o homem tá mas é parvo!". Mas Alérdido não ligava, pois como dizia ele, "mais vale prevenir que remediar". E assim continuava com as suas nostalgias. Enfim, de certo modo, nostalgias que até serviram de quebra-gelo, as histórias da sua vida conturbada entristeceram muita boa gente. Devido a elas, Alérdido criou laços por toda a "linha feliz" e sabem que mais? Os motoristas já não param quando Alérdido faz stop, mas apenas na paragem onde ele realmente quer sair.
Moral da história: use sempre o preservativo
PS: Adoro histórias bonitas
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